Desde a década de 50 o
mundo corporativo, especialmente do segmento industrial, já adotava as atuais e
convencionais técnicas de previsão de demanda e de cálculo de parâmetros de
estoque (estoque de segurança, ponto de resuprimento, lote de compra e estoque
máximo). Tanto uma quanto a outra já são “velhas” conhecidas dos profissionais
da área de suprimentos, mas vamos relembrá-las:
A
Técnica da Previsão de Demanda
Fazer previsões nunca
foi uma tarefa fácil para ninguém, mas qualquer gestor, goste ou não goste, tem
que encarar este desafio cotidianamente. Na área de suprimentos então essa
atividade é de crucial importância, talvez aquela que determina o sucesso ou
fracasso de sua administração.
No “mundo” MRO existem
diferentes comportamentos da demanda dos materiais, que vão de uma expressiva
frequência de ocorrência até nenhuma ocorrência no período avaliado. É um
verdadeiro mundo das incertezas, estatisticamente conhecido como Estocástico.
Considerando isso
percebemos que a grande maioria dos gestores de MRO, quando imbuídos de prever
a demanda dos materiais, comete um erro clássico em não estimar também
a dispersão associada a esta demanda. Outro problema é achar que apenas doze
meses de série histórica são suficientes para projetar a demanda futura.
A previsão e dispersão
da demanda são medidas muito importantes para o cálculo dos parâmetros de
estoque, como veremos no próximo tópico.
A
Técnica de Parametrização
Estimada a demanda
futura (nunca se esquecendo da dispersão associada) é possível partir para
calcular os famosos parâmetros de dimensionamento dos estoques: Estoque de
Segurança ou Mínimo, Ponto de Abastecimento ou Ressuprimento, Lote de Compra ou
Quantidade a Ressuprir e Estoque Máximo. Na sequencia vamos falar um pouco
sobre cada um deles.
Estoque de segurança ou
Mínimo
Este parâmetro, como o
próprio nome sugere, é uma “gordura” que tem como propósito garantir o
atendimento das necessidades de materiais caso algum problema aconteça durante
o abastecimento. Por exemplo: demanda atípica, atraso na emissão da solicitação
de compra, atraso na emissão do pedido de compra, atraso na fabricação ou
transporte etc. Geralmente é encarado como um “mal necessário”.
O algoritmo mais usual para
o cálculo desse parâmetro é o produto de um fator de segurança a pela demanda durante o lead time do
material. Geralmente este fator de segurança está associado ao impacto da falta
do material ou pela dispersão da sua demanda.
Ponto de Abastecimento
ou Ressuprimento
Tem como propósito o “disparo”
do processo de abastecimento do material. Portanto deve estar dimensionado para
atender ao prazo de entrega do fornecedor contratado. Devem-se adicionar a este
prazo os tempos internos: de processamento do pedido de compra etc. e externos
à contratação: transporte, inspeção etc.
O algoritmo usual para o
seu cálculo é o produto de leadtime (tempo de ressuprimento) pelo consumo médio
mensal, acrescido do estoque de segurança estabelecido para o material (caso
haja).
Lote de Compra ou
Quantidade a Ressuprir
É muito importante que
se estabeleça a quantidade de peças que deve ser adquirida a cada
abastecimento. Esta quantidade pode ser dimensionada de diversas maneiras, mas
todas as técnicas levam em consideração as políticas de estoques e compras da empresa.
Geralmente relaciona-se o dimensionamento do lote ao valor do material
adquirido. Caso o material seja relativamente caro tem-se esse lote menor dimensionado
e vice versa. Outro aspecto é quanto ao tamanho físico do lote. Caso este ocupe
uma área de armazenagem muito grande recomenda-se que o lote seja pequeno,
mesmo que isso implique em uma maior frequência de entregas.
Dentre todas as
técnicas convencionais a mais assertiva e recomendada por estudiosos no assunto
é o lote econômico de compras (LEC), porém a técnica é pouco utilizada, já que
a maioria das empresas não tem precisamente aferida duas variáveis fundamentais
para o seu cálculo: os custos de aquisição e de armazenagem.
Estoque Máximo
Nada mais que a
derivação dos demais parâmetros. Geralmente calculado pela soma do ponto de abastecimento
e do lote de compra, embora alguns autores prefiram nomeá-lo com estoque
potencial. Para eles o estoque máximo seria a soma do estoque de segurança e do
lote de compra, conceituação na qual compartilho.
E essa técnica convencional
funciona?
Já se mostrou bastante
ineficiente quando a demanda dos itens é muito errática ou intermitente. Até
que funciona bem para aqueles itens que tenham uma demanda contínua ou
frequente e que tenham uma dispersão baixa, embora as técnicas modernas façam
severas críticas até nesses casos (vamos ver o porquê disso depois).
Considerando que a
principal característica dos materiais MRO é a intermitência e alta dispersão da
demanda, fiquem muito espertos e atentos ao usar esta técnica. Se usá-la de
forma indiscriminada vocês estarão incorrendo em dois sérios riscos: (1) de
estar superdimensionando seus estoques ou (2) de estar comprometendo a disponibilidade
ou continuidade operacional da sua empresa. Ou seja, gerando um significativo
desbalanceamento dos seus estoques.
Existe alguma técnica
mais moderna, que funcione melhor?
Existe sim, mas antes
de entrarmos nesse ponto vale a pena falarmos um pouco sobre os motivos que
levaram um determinado país a desenvolver técnicas mais aprimoradas para o
dimensionamento dos estoques.
Um pouco de história
Com o advento das
guerras modernas, como a do Iraque, e da necessidade cada vez maior de
assegurar “velhas parcerias” junto aos países produtores de insumos
fundamentais (petróleo principalmente), os EUA investem cada vez mais em aparatos
bélicos distantes do seu território, incorrendo necessariamente em custos
logísticos astronômicos. Concluiu-se que algo deveria ser feito para minimizar
esses gastos, pois já estariam muito próximos do limite da sua inviabilidade
econômica.
Dentre as diversas
ações planejadas para contenção de gastos destacamos a redução substancial dos
custos de estoques em seus almoxarifados satélites (localizados nas suas
diversas bases espalhadas pelo mundo).
Foram contratados
renomados cientistas em todo o mundo, que estudaram uma melhor maneira de dimensionar
os estoques sem comprometer operacionalmente essas bases (o que seria uma
catástrofe). Surgiu assim uma nova técnica surpreendente, chamada de CWBO - Cost Weighted Backorders, com
resultados fantásticos (reduções de 30 a 40% do inventário para um mesmo nível
de atendimento).
Vamos detalhar esta
técnica em nosso próximo artigo. Não percam!
Nenhum comentário:
Postar um comentário